Em primeiro lugar, conhecer bem, pela luz do Espírito Santo, o nosso fundo mau, a nossa incapacidade para qualquer bem útil à salvação, a nossa fraqueza em todas as coisas, a nossa permanente inconstância, a nossa indignidade de toda a graça, a nossa iniqüidade em toda a parte. O pecado dos nossos primeiros pais arruinou-nos a todos quase por completo, azedou-nos, corrompeu-nos, fez-nos inchar como o fermento faz à massa em que é lançado. Os pecados atuais que cometemos, quer mortais, quer veniais, embora tenham sido perdoados, aumentaram-nos a concupiscência, a fraqueza, a inconstância e corrupção, deixando maus vestígios na nossa alma. O nosso corpo é tão corrupto que é chamado pelo Espírito Santo corpo de pecado (Rm 6, 6; Sl 50, 7), concebido no pecado, alimentado no pecado, capaz de todo pecado e sujeito a mil enfermidades. Corrompe-se de dia a dia, e gera somente sarna, vermes e corrupção. A nossa alma, unida ao corpo, tornou-se tão carnal que chega a ser chamada carne: “Toda a carne tinha corrompido o seu caminho” (Gn 6, 12). A nossa única herança é o orgulho e a cegueira de espírito, o endurecimento do coração, a fraqueza e a inconstância da alma, a concupiscência, a revolta das paixões e as doenças do corpo. Somos, naturalmente, mais orgulhosos que os pavões, mais apegados à Terra que os sapos, piores que os bodes, mais invejosos que as serpentes, mais gulosos que os porcos, mais coléricos que os tigres e mais preguiçosos que as tartarugas, mais fracos que caniços e mais inconstantes que os cata-ventos. De nosso só temos o nada e o pecado, e só merecemos a ira de Deus e o inferno eterno.