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Em segundo lugar, para nos despojar de nós mesmos, é preciso morrer todos os dias. Isto quer dizer que é preciso renunciar às operações das potências da nossa alma e dos sentidos do nosso corpo, ou seja: temos de ver como se não víssemos, de ouvir como se não ouvíssemos, de nos servir das coisas deste mundo como se delas não nos servíssemos (1 Cor 7, 29-31). É a isto que São Paulo chama de morrer todos os dias (1 Cor 15, 31). “Se o grão de trigo cai à Terra e não morre, permanece só e não produz fruto” (Jo 12, 24). Se não morrermos para nós mesmos, e se as nossas devoções mais santas não nos levam a esta morte necessária e fecunda, não daremos fruto que valha. Porque então as nossas devoções tornar-se-ão inúteis, todas as nossas boas obras serão manchadas pelo amor próprio e pela nossa vontade própria, o que fará com que Deus abomine os maiores sacrifícios e as melhores ações que possamos fazer. E, nesse caso, encontrarnosemos com as mãos vazias de virtudes e méritos na hora da nossa morte, e não teremos sequer uma centelha de Puro Amor, pois este só é dado às almas mortas para si mesmas e cuja vida está oculta com Jesus Cristo em Deus (Cl 3, 3).